PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

domingo, 24 de fevereiro de 2013

MARACANÃ JÁ CONSUMIU R$ 1,2 BILHÃO EM TRÊS REFORMAS.

 
Nos últimos 14 anos, estádio gastou o equivalente a cinco vezes o dinheiro investido na década de 40.
  • Obra atual está orçada em R$ 859 milhões
Marcelo Alves
Carolina Oliveira Castro

O estádio do Maracanã em reformas. Parte do teto e das cadeiras foram colocados
Foto: Ricardo Moraes / Reuters
O estádio do Maracanã em reformas. Parte do teto e das cadeiras foram colocadosRicardo Moraes / Reuters
 
RIO - Sob o testemunho e o silêncio dos 5,5 mil operários que trabalham diariamente para deixá-lo pronto a tempo do amistoso entre Brasil e Inglaterra, no dia 2 de junho, o Maracanã é um gigante adormecido há exatos dois anos, cinco meses e 12 dias. Enquanto lá dentro os trabalhadores correm para entregá-lo à Fifa no dia 24 de maio, data estipulada após três adiamentos, os valores envolvendo as reformas se multiplicam. Somente para entrar no século XXI e se modernizar, o velho estádio construído no fim da década de 1940 para receber a Copa do Mundo de 1950 já consumiu o equivalente a R$ 1,2 bilhão. E ninguém garante que mais dinheiro não será gasto em novas intervenções entre o Mundial de 2014 e os Jogos Olímpicos de 2016, quando o Maracanã também terá papel fundamental. O montante já investido daria para construir cinco Maracanãs iguais ao inaugurado há 63 anos. Quando foi erguido, o estádio custou 250 milhões de cruzeiros, o que equivaleria hoje a pouco mais de R$ 235,5 milhões, valor corrigido através de um aplicativo do site do Banco Central.
 
Nos últimos 14 anos, esta é a terceira reforma pela qual o Maracanã passa. A semelhança entre elas é o crescimento do orçamento inicialmente previsto. A primeira foi em 1999, quando o estádio se preparava para receber a primeira edição do Mundial de Clubes da Fifa, no ano seguinte. As arquibancadas receberam assentos de plástico, e foram construídos camarotes. Calculada inicialmente em R$ 52 milhões, a reforma custou R$ 106 milhões. A segunda foi para o Pan de 2007. Dessa vez, as intervenções foram maiores, com o rebaixamento do campo e o fim da geral. A previsão de investimento, inicialmente, era de R$ 67 milhões, mas o custo final foi bem maior: R$ 304 milhões.
 
Ainda assim o estádio não ficou dentro dos padrões da Fifa. O que obrigou um novo fechamento, em setembro de 2010, para que pudesse ser preparado para a Copa de 2014. O Maracanã foi, praticamente, posto abaixo e reconstruído a partir da estrutura tombada pelo patrimônio histórico. No entorno, ainda é possível encontrar uma velha placa, exibindo o custo inicial, de R$ 705 milhões. Mas, hoje, está em R$ 859 milhões, segundo a Empresa de Obras Públicas do Rio (Emop). Contudo, algumas estimativas apontam que o valor ainda pode ultrapassar a casa de R$ 1 bilhão.
O investimento feito nas reformas do estádio daria para construir dois Stade de France (R$ 643,2 milhões), por exemplo, palco da final do Mundial de 1998. Também é muito superior aos gastos com as modernizações dos estádios de Berlim (R$ 897,2 milhões) e Johannesburgo (R$ 767 milhões), que receberam, respectivamente, as decisões de 2006 e 2010. Na comparação com outros estádios modernos, o Maracanã já consumiu mais dinheiro do que o Allianz Arena, erguido em Munique por R$ 1,007 bilhão. Mas ainda está distante do novo Wembley, reconstruído por R$ 2,1 bilhões.
 
Além do aumento no orçamento, o futuro palco da final do Mundial de 2014 convive, desde o início, com os atrasos nos prazos de entrega da obra. Depois de três adiamentos, a Emop garante que o estádio será entregue para a Fifa 23 dias antes do início da Copa das Confederações. A primeira partida do torneio ali será no dia 16 de junho, entre México e Itália. No início da semana passada, uma nova paralisação dos trabalhadores fez crescer o temor de que o estádio poderia não ficar pronto a tempo.
 
— O atraso é enorme, tem muita coisa para se fazer ainda — disse, na última segunda, um operário que não quis se identificar. — Não consigo ver como isso pode ficar pronto. A obra está muito atrasada.
 
Mas após uma intervenção do governador Sérgio Cabral, que negociou um acordo entre patrões e trabalhadores, o discurso pessimista ganhou uma injeção de otimismo. Pela proposta aprovada por unanimidade em assembleia, os trabalhadores terão direito a cesta básica de R$ 330, dois salários de participação nos lucros, reajuste de 11% e 80% de hora extra.
 
— Se não houver mais greve, acredito que a obra será entregue no prazo — afirmou o presidente do Sindicato dos Trabalhadores de Construção Pesada do Rio de Janeiro (Sitraicp), Nilson Duarte Costa.
A Emop não divulga, desde novembro, os dados percentuais do andamento da obra. Mas, de acordo com o presidente do sindicato, ela agora caminha “num ritmo bom”.
 
— Já há dez 10 mil cadeiras instaladas. Faltam 70 mil. Um grupo está envolvido no acabamento da parte interna e dos camarotes. O campo já está na segunda fase de areia, para, em cima disso, entrar o gramado. Acho que, em 40 dias, estará pronto — garante o dirigente sindical, revelando um pouco do que está é feito por trás dos muros.
 
Olhada do lado de fora, a obra parece estar mais adiantada, mas há quem acredite que nem tudo estará 100% pronto no dia 2 de junho. O que não seria uma novidade na história do estádio.
 
Inaugurado em 16 de junho de 1950, num amistoso entre as seleções carioca e paulista, o Maracanã ainda tinha andaimes na parte interna das arquibancadas para segurar as marquises.
 
— Como a cobertura não estava seca, foram usados andaimes para segurar as marquises. Isso faltando uma semana para começar a Copa. Ainda havia pedaço de madeira na arquibancada, além de muita coisa para ser feita no entorno — conta o jornalista Diego Salgado, um dos autores do livro “1950: O preço de uma Copa”, ainda a ser lançado. — Para provar que as marquises já estavam secas, o coronel Herculano Gomes, que comandara a obra, subiu nelas. E para provar que as arquibancadas estavam aptas a receber o público, uma parte dos andaimes foi derrubada de propósito para o impacto servir de teste.
 
Lições de 1950
Para Diego, é possível traçar um paralelo entre as organizações do Mundial de 1950 e de 2014. Se no século passado a Copa era bem menor e não havia preocupação com legado nem grande lista de exigências da Fifa, alguns erros se repetem 63 anos depois:
 
— O paralelo de preparação tardia e a demora para começar as obras também aconteceu em 1950. No começo daquele ano, ainda havia muita coisa a ser feita, um cenário muito parecido com o de hoje. O Brasil foi escolhido sede no dia 30 de outubro de 2007, mas as obras nos estádios só começaram, efetivamente, em 2010, 2011. Em 1950, fomos escolhidos sede no dia 26 de julho de 1946, e as obras dos estádios começaram dois anos depois. O Brasil perdeu metade do tempo para a preparação, repetindo os erros de 1950. Faltam 70 dias para fazer muita coisa no Maracanã. É claro que estará pronto no dia 2 de junho, se não seria uma vergonha. Mas acredito que será reinaugurado ainda inacabado.

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