PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

PROJETOS DA COPA 2014 EM MANAUS

sexta-feira, 31 de agosto de 2012

FIFA ACHA QUE A COPA ENTROU NOS TRILHOS. MAS A QUE PREÇO?

FONTE: http://veja.abril.com.br/noticia/esporte/fifa-acha-que-a-copa-entrou-nos-trilhos-mas-a-que-preco?utm_source=redesabril_veja&utm_medium=twitter&utm_campaign=redesabril_veja&utm_content=feed&

Com entrada do governo no comitê organizador local, entidade avalia que obras nos estádios ficarão prontas a tempo. Mas Blatter já avisa: isso vai custar caro.

Giancarlo Lepiani
 
Valcke e Ronaldo nas obras da Arena Amazônia: estádio acima do preço
 
Valcke e Ronaldo nas obras da Arena Amazônia: estádio acima do preço - Divulgação/Fifa
A advertência de Blatter pode ser comprovada nas próprias sedes visitadas por Valcke nesta semana. Cuiabá e Manaus têm seis obras ligadas à Copa. Quatro estão fora do prazo inicial. Somadas, custarão 1,4 bilhão de reais a mais do que o prometido
Há cerca de três meses, a Fifa avaliava que a Copa do Mundo de 2014 estava sob risco. Num relatório interno, apontava que nada menos que cinco dos doze estádios previstos para o Mundial estavam com obras fora do prazo. A entidade que controla o futebol não escondia sua insatisfação com a maneira como os trabalhos eram conduzidos pelos brasileiros. E seu presidente, Joseph Blatter, ainda tinha de lidar com a animosidade entre seu principal auxiliar, o francês Jérôme Valcke, e as autoridades do país. Desde então, a situação do Mundial no país mudou de forma espantosa. Convencidos de que o fracasso da Copa no Brasil seria um desastre para as duas partes, Joseph Blatter e a presidente Dilma Rousseff costuraram uma aproximação e decidiram tomar as rédeas do processo, através de uma intervenção no Comitê Organizador Local (COL). Nesse intervalo, por coincidência, foi lançado o slogan oficial da Copa, "Juntos num só ritmo". O lema parece ser seguido à risca pelos encarregados de conduzir os preparativos para 2014: nesta semana, Valcke visitou o país ao lado dos representantes do COL e fez uma descrição altamente favorável da situação. Que não se pense, porém, que os problemas estão totalmente superados. A Fifa acredita que a Copa enfim entrou nos trilhos, mas acha que o país ainda cometerá equívocos - e que, no fim, acabará pagando uma conta maior do que se esperava.
 
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Na tarde de quinta-feira, no Rio de Janeiro, o secretário-geral Valcke encerrou sua viagem pelo Brasil pintando um quadro surpreendente para 2014 (pelo menos para quem, poucos meses antes, provocou uma guerra verbal com o infame episódio do "chute no traseiro"). "Os problemas do início já acabaram", decretou o francês, acompanhado de Ronaldo, que o escoltou nas visitas às obras em Manaus e Cuiabá. "Isso significa que atingimos velocidade de cruzeiro e estaremos prontos a tempo. O ritmo em que entramos é o ritmo de que nós precisamos para que os estádios fiquem prontos até o fim de 2013 ou o começo de 2014." Presente na reunião que decidiu pela entrada de Luís Fernandes, secretário-executivo do Ministério do Esporte, no COL, Valcke se disse satisfeito com os efeitos das mudanças na estrutura do comitê - disse que, desde então, "trabalhou-se mais" e "as coisas passaram a funcionar melhor". "Antes, tudo era lento. De repente, talvez pela pressão sentida com a contagem regressiva para o evento, surgiu uma consciência de que as coisas precisavam avançar." Na passagem por Manaus, o francês chegou a reivindicar os méritos pela mudança de cenário: "Houve um momento de forte crise, provocada por mim, mas a vantagem disso é que atingimos um nível de cooperação sem igual", disse. "Hoje, não há nenhuma obra em zona crítica, nenhuma em vermelho", completou ele na passagem pelo Rio.
 
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Tudo resolvido, portanto? Na avaliação de Blatter, muito longe disso. Em uma entrevista divulgada na manhã desta sexta, poucas horas depois das declarações de Valcke, o suíço foi muito menos diplomático que seu auxiliar e voltou a falar abertamente sobre as falhas brasileiras - desmentindo, inclusive, a avaliação do secretário-geral sobre o possível efeito benéfico de suas palavras duras contra o país. Falando à agência de notícias France-Presse, Blatter disparou: "Aos brasileiros não falamos mais nada, porque não funciona mesmo". Para o presidente da Fifa, o que provocou o avanço das obras não foi o episódio do "chute no traseiro", mas sim a interferência direta dele e de Dilma. "O que mudou foi a introdução de um integrante do governo no comitê local. Não se pode organizar um Mundial sem representantes do governo para a segurança, as telecomunicações, infraestrutura, estradas, trens, aviões." O cartola se mostrou aliviado ao receber a versão mais recente do relatório técnico sobre 2014. "Já não existem arenas em vermelho, há muito poucas em amarelo e muitas em verde." Mas o presidente da Fifa não escondeu o que pensa sobre a reta final dos preparativos para a Copa: "Os brasileiros enfrentarão problemas internos. As obras serão mais caras do que o previsto, mas serão concluídas". Blatter emendou com uma frase que não deixa dúvidas sobre as dúvidas e desconfianças da própria Fifa sobre a chance de sucesso do Mundial: "Imaginem, uma Copa do Mundo no Brasil!"
 
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1,4 bi a mais - A advertência de Blatter sobre os custos maiores que o esperado pode ser comprovada nas próprias sedes visitadas por Jérôme Valcke. O secretário-geral afirmou ter ficado satisfeito com o ritmo dos trabalhos e se disse confiante na entrega das arenas de Manaus e Cuiabá. Quem paga a conta, no entanto, é o contribuinte do país-sede. Na capital do Amazonas, a arena da Copa era uma das mais atrasadas no início do ano. A obra ganhou um reforço de operários e teve seu ritmo acelerado. Em julho, chegou a 46% de sua conclusão. Mas prazo de entrega fixado em 2010 (dezembro de 2012) não será cumprido (a previsão atual é junho de 2013) e o preço do estádio já subiu mais de 35 milhões de reais (de 515 milhões para 550,7 milhões). E isso mesmo depois da intervenção do Tribunal de Contas da União (TCU) - no começo do ano, constatou-se um sobrepreço de 86 milhões de reais no orçamento do estádio, que custaria 618 milhões. O relatório do TCU provocou a suspensão da linha de crédito que financia a maior parte do custo da arena (cerca de 400 milhões de reais). O governo do estado e a empreiteira Andrade Gutierrez só voltaram a receber os repasses federais depois de uma revisão nos contratos. Somadas, Cuiabá e Manaus têm seis grandes obras ligadas à Copa. Quatro delas estão fora do prazo de entrega apresentado pelo governo e pelas cidades-sede em janeiro de 2010. Há dois anos e meio, o custo total dos trabalhos era de 3,18 bilhões de reais. A previsão atual é de um gasto de 4,58 bilhões, ou 1,4 bilhão a mais do que se prometia - tudo conforme Blatter diz na sua entrevista desta sexta.

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